Eu sei, Papai Noel, que os pequeninos bilhetes
que lhe fazia em criança,
você perdeu…
Mas não lhe guardo mal
porque o ódio é sentimento feio
e nós estamos perto do Natal.
Agora, por que pediria
para o mundo — alegria,
para o pobre — alimento,
para o enfermo — conforto,
para os órfãos — carinho?
Você não tem culpa da inclemência dos homens,
da cupidez, da avareza,
das rapinas e dos desmandos
de todos os regimes que dizem
consertar o velho mundo torto.
Você trabalha só para as crianças
e as crianças não sentem necessidade
de mudar coisa alguma.
Se permite, porém, pedir-lhe alguma coisa
— eu o faço somente para mim –
pois sei que ninguém pediria
como eu, com tanta devoção,
uma mudança completa
no coração!
Queria que você ressuscitasse
aquela menina que morreu…
Um sorriso inocente e muito alegre,
pés voando de contentes,
cabelos revoltos e bonitos,
olhos da cor do sol…
Essa menina era eu!
Traga os meus olhos da infância, Noel,
preciso ler com eles a história do Natal
e ver, através deles, a manjedoura,
o menino dormindo
e anjos cantando “PAZ NA TERRA”
sob o fluido da estrela divinal.
E conservá-los abertos, bem abertos
para espreitar a sua chegada.
Se os outros bilhetes você perdeu,
atenda ao meu pedido,
Papai Noel querido:
Ressuscite essa criança que fui eu!
Daria Glaucia Vaz Andrade
Jaguaquara, Bahia, Natal de 1953